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Amazônia e Mudanças Climáticas: Desafios e Reflexões sobre a Resiliência Socioambiental na Aula Inaugural do PPGAA

  • Publicado: Terça, 12 de Novembro de 2024, 20h47
  • Última atualização em Terça, 12 de Novembro de 2024, 20h53

Texto escrito por: Rosileia Carvalho Andrade (Doutoranda do PPGAA) e Juciene Lobato Miranda (Mestranda do PPGAA).

 

Qual o futuro da Amazônia em um mundo em rápida alteração do clima? Como a floresta e suas comunidades podem resistir e adaptar-se aos desafios impostos pelas mudanças climáticas? Essas foram algumas das questões levantadas na aula inaugural (figura 1) da disciplina "Mudanças Climáticas Globais e a Amazônia", realizada na tarde do dia 30 de outubro de 2024. Ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA) e vinculada ao Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), a disciplina, coordenada pelo Professores Valério Gomes e Frederico Brandão, abre um espaço de estudo, reflexão e debate sobre uma das questões mais urgentes do nosso tempo: a relação entre as mudanças climáticas e a preservação da Amazônia. O encontro inaugurou uma discussão essencial sobre o papel da Amazônia na regulação climática global e a urgência em reforçar a resiliência socioecológica dos povos tradicionais que habitam a região frente às mudanças climáticas.

Figura 1: Professores, discentes e a palestrante Pesquisadora Tatiana Sá ao final da aula.

Fonte: Discente PPGAA (2024).

A aula foi ministrada pela Dra. Tatiana Sá, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e colaboradora do Núcleo de Estudos Agroecológicos Puxirum Agroecológico. Em sua exposição, a professora enfatizou o papel da Floresta Amazônica na regulação do clima global, destacando o importante papel que ela desempenha na manutenção da umidade nessa região dos trópicos, resultado da sua capacidade de absorver e armazenar água, que posteriormente é liberada na atmosfera através do processo de evapotranspiração, influenciando diretamente a umidade sobre a região Amazônica. Esse fenômeno, aliado a presença da Cordilheira dos Andes, uma grande barreira física, influencia diretamente na formação dos denominados "rios voadores", que são grandes massas de umidade (chuva) que é transportada pelas correntes de ventos do norte até o sudeste do Brasil, e que tem sua importância reconhecida para a manutenção da vida e da economia principalmente no Centro Oeste e Sudeste do Brasil. Tatiana ressaltou que a contínua destruição da floresta coloca em risco esse equilíbrio, ameaçando a biodiversidade, os processos biogeoquímicos, as comunidades locais e aumentando a instabilidade climática global e os riscos socioambientais.

A aula também explorou a importância da resiliência socioecológica, especialmente no contexto das comunidades ribeirinhas e dos agricultores que vivem na Amazônia. A professora Sá pontuou que esses atores sociais, percebem que os problemas das mudanças climáticas estão se intensificando e já convivem com questões como a salinização dos rios, a perda da biodiversidade e a insegurança hídrica.

 Esses impactos negativos, provenientes em sua maioria pelas ações humanas, demonstram como ao longo do tempo, o uso de combustíveis fósseis e outras formas de energias não renováveis, os processos industriais, a produção e o descarte sem tratamento de resíduos nas indústrias e cidades, a agropecuária, o desmatamento e as queimadas associadas, podem trazer consequências para a Amazônia e toda a sociedade no contexto das mudanças climáticas. 

Marengo e Souza Junior (2018)[1], afirmam que quanto maior for o aquecimento global, o desmatamento e as queimadas, maiores serão os riscos futuros à vida das pessoas no planeta, o que inclui também os riscos irreversíveis sobre os ecossistemas e seus serviços oferecidos, além dos impactos sobre a biodiversidade e sobre a produção agrícola.

Em consequência a essas ações ocasionadas pelo ser humano, percebe-se como a agricultura familiar de fato vem sofrendo com essas mudanças, principalmente com a perda das produções agrícolas por conta das altas temperaturas e com a falta de água em virtude das secas e da falta de chuva. De acordo com a professora Sá, regiões do nordeste paraense tiveram muitas perdas produtivas de culturas agrícolas, como a exemplo do cacau e do açaí, que passaram a apresentar deficiência nas sementes e produção inferior à anos anteriores.  Além disso, cada vez mais os solos encontram-se em estado crítico de degradação, e as condições de recuperação se tornam mais desafiadoras. Ademais, não pode ser esquecido que com esse cenário seco e com altas temperaturas, os incêndios florestais se intensificam, contribuindo para que o ar fique poluído e haja perda ainda maior da biodiversidade.

Assim, refletindo sobre todos esses pontos, é notório que, apenas debater esses assuntos problemáticos e importantes de serem evidenciados não resolve muita coisa, pois é requerido acima de tudo ações imediatas e concretas, que saiam do papel e se torne uma realidade na atualidade.

Desse modo, é importante entender o papel que a Amazônia representa para o presente e para o futuro do planeta nesse momento de emergências climática. E a partir desse ponto, buscar valorizar ações sustentáveis, que promovam a continuidade de iniciativas definitivas para o bem-estar da agrobiodiversidade da floresta. Além disso, é preciso adaptar-se a um novo contexto, primando por práticas de recuperação e regeneração em substituição a práticas que ocasionam a perda ainda maior de componentes essenciais à vida, como a exemplo da água. Agindo assim, consequentemente, aumenta-se a resiliência da Amazônia nos momentos de crises.

O INEAF, nesse contexto, tem função essencial no debate sobre as mudanças climáticas e sobretudo na resiliência socioambiental da agricultura familiar frente aos desafios climáticos. Por ser um espaço de construção de conhecimento e que tem uma abordagem transdisciplinar e interdisciplinar, consegue ter uma dimensão holística dos diversos problemas que tem afetado os agricultores, que se estendem aos diversos aspectos: sociais, ambientais, econômicos e culturais.

 Esse conhecimento é expresso nos trabalhos que são construídos no decorrer da graduação, dos cursos de especialização, mestrado e doutorado, os quais apresentam resultados significativos, que em sua maioria, combinam o conhecimento científico com o conhecimento empírico, trazendo pontos chaves que contribuem para pensar em soluções sustentáveis. Esses materiais são muito ricos, e precisam ser considerados nos momentos de construção de políticas públicas e nas tomadas de decisão por agentes públicos e privados, pois trazem informações valiosas sobre a Amazônia. Uma das formas de aproveitar esses materiais é tratar nas aulas sobre eles, se tem alguma disciplina que traga determinado tema que já foi palco das pesquisas dos discentes, seria interessante apresentar os resultados desses estudos nessas disciplinas.

O foco das pesquisas e dos trabalhos dos pesquisadores do INEAF, a respeito da agricultura familiar, serve também para fortalecer os agricultores e aquilo que é feito por eles na Amazônia. Dando valorização às suas práticas e suas formas de resiliência, as quais são singulares para o cenário atual. Além disso, o INEAF é também um importante caminho para a construção de intercâmbio com outros institutos e instituições. E isso é essencial, e deve ser potencializado, pois a relação que se estabelece por meio do conhecimento é regeneradora e transformadora.

Nesse sentido, a disciplina “Mudanças Climáticas Globais e a Amazônia” visa criar um espaço interdisciplinar que permita a troca de saberes entre pesquisadores e comunidades, um diálogo aberto entre o conhecimento científico e os saberes tradicionais das comunidades amazônicas. Ao integrar pesquisadores, professores e líderes comunitários, esse espaço pode fomentar a troca de experiências e práticas, valorizando o conhecimento local e adaptando-o às estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Além disso, a interdisciplinaridade se fortalece ao unir áreas como ecologia, antropologia, agronomia e sociologia para uma visão mais completa das dinâmicas da floresta e das necessidades das populações locais.

Ainda, a professora Sá reforçou a importância de se construir uma resiliência socioambiental por meio de abordagens agroecológicas. A agroecologia surge como uma alternativa que valoriza o conhecimento tradicional e a biodiversidade local, integrando práticas de manejo sustentável e sistemas agroflorestais que promovem uma agricultura adaptável. Este caminho, segundo a Dra. Sá, não só mitiga os impactos das mudanças climáticas, como também fortalece a capacidade das comunidades amazônicas de resistir e se adaptar aos desafios ambientais que surgem. A proposta é que o PPGAA e o INEAF tornem-se espaços de co-construção de conhecimento, unindo a pesquisa acadêmica com os saberes ancestrais, criando soluções concretas para a proteção da Amazônia​.

Portanto, esse encontro inaugural provocou uma forte reflexão entre os doutorandos, mestrandos e docentes presentes, evidenciando a relevância de nossa atuação na produção de conhecimento que realmente reflita com a realidade e as necessidades dos povos amazônicos. A disciplina, assim, se configura como um convite a todos nós para contribuir, de maneira ativa e comprometida, com a resiliência socioambiental e a preservação da floresta, promovendo pesquisas e ações que priorizem a justiça climática e ecológica. Ao finalizar, a professora nos desafiou com uma questão que deve nortear nossos estudos: como podemos, enquanto pesquisadores e agentes do INEAF, auxiliar na construção de um futuro resiliente e sustentável para a Amazônia? Essa provocação reafirma a responsabilidade e o papel central do PPGAA no enfrentamento dos desafios ambientais, no fortalecimento das comunidades locais e na proteção desse bioma essencial para o planeta.


[1] MARENGO, José A.; SOUZA JUNIOR, Carlos. Mudanças climáticas: impactos e cenários para a amazônia. USP: São Paulo, 2018, 31.p.

 

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